Publicado em: 16 de agosto de 2021 Atualizado:: agosto 16, 2021
A ânsia na defesa de uma terceira via parece não atingir apenas a cena política nacional. Na Bahia, onde estão praticamente cristalizados os nomes de ACM Neto e Jaques Wagner na disputa pelo governo do Estado, há também um esforço reiterado de tornar viável um palanque inteiramente disponível para apoiar o presidente Jair Bolsonaro, forçado por uma via alternativa à dicotomia entre PT e DEM na Bahia ou numa espécie de empurrão forçoso para que ACM Neto se assuma enquanto bolsonarista. Até agora, nenhum desses dois caminhos parece palpável para a campanha eleitoral de 2022.
Do lado petista, há uma estratégia de fomentar que João Roma, atual ministro da Cidadania, mantenha o rompimento com o ex-aliado ACM Neto e roube nacos de votos da direita moderada baiana. Logicamente, o entorno de Wagner jamais vai admitir escolher adversários, mas a presença de um Roma facilitaria inúmeros discursos contra ACM Neto. Então, o palanque bolsonarista beneficia Wagner tanto quanto a candidatura de Lula, a principal impulsão disponível até aqui, segundo as pesquisas de opinião. Em 2020, na sucessão em Salvador, já foi possível perceber que o petismo e o entorno torcem, ainda que discretamente, para que Bolsonaro tenha um mínimo de sobrevida na Bahia, o que simplificaria o eterno duelo travado pelo marketing político entre mocinhos e vilões. Portanto, não nos enganemos ao ouvir falas que sugiram a necessidade de múltiplas candidaturas, ainda que do campo adversário.
O último levantamento disponível, realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas em parceira com o Bahia Notícias, todavia, trouxe um dado que não pode ser desprezado. A figura de Raíssa Soares, também conhecida como Doutora Cloroquina, ter percentual muito similar ao de Roma pode fazer com que o ministro seja rifado do processo. A fidelidade bolsonariana é tão autêntica quanto uma cédula de R$ 3, então seria bom o pernambucano colocar as barbas de molho (apesar do visual imberbe). Tal movimento facilitaria a vida de ACM Neto, já que um Roma traído emplacaria mais facilmente o discurso arrependido de um ex. São hipóteses pouco prováveis, porém não inteiramente descartáveis. O ministro é um nome forte associado a Bolsonaro, porém está longe de conseguir a associação automática, ainda que comande uma pasta relevante da Esplanada para obter visibilidade. Roma ainda é muito Neto e pouco Bolsonaro para a comunidade local.
Por isso, o PT e seus companheiros deverão seguir pelo caminho mais lógico de tentar associar o ex-prefeito de Salvador ao presidente. A aposta da terceira via é possível, mas é mais didático jogar o DEM no colo do bolsonarismo – o que muitas vezes, inclusive, faz por merecer. Por isso, do lado de ACM Neto não seria tão absurdo os dedos cruzados para que aparece um outro nome para carregar o fardo Bolsonaro nas costas. Se não for João Roma, então, nem se fala. Seria o objeto de desejo para que o ex-gestor soteropolitano conseguisse se manter distante do ocupante do Palácio do Planalto – e com direito a herdar os apoios e articulações obtidas pelo ministro na tentativa de se viabilizar enquanto candidato.
Falar de 2022 ainda é muito nebuloso. Apostar no surgimentos de terceiras vias chega a ser atirar no escuro, de olhos vendados, e torcer para que a bala atinja o alvo. Enquanto isso, vamos observando e, em algumas situações, até rindo dos universos de possibilidades que insistem em trazer à baila. Uma coisa é certa: não dá para dizer que realidades paralelas não possam eventualmente colidir com a nossa. Vide a eleição de 2018 e tudo que aconteceu dela pra cá. Fonte: bahianoticias
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