Publicado em: 2 de maio de 2024 Atualizado:: maio 2, 2024
Ainda não estão claros que incentivos – ou discurso – o governo do Estado oferecerá ao eleitorado cativo de esquerda para justificar o voto em seu candidato à Prefeitura de Salvador, Geraldo Jr. (MDB). A ideia de que ele tem o apoio do governador Jerônimo Rodrigues (PT) e do presidente Lula (PT), como vêm mostrando as pesquisas, parece insuficiente. Não é preciso muito esforço para que se perceba que a falta de identidade entre Geraldo Jr. e os dois petistas é evidente e que muito empenho para revertê-la pode acabar produzindo exatamente o efeito contrário, o que definitivamente não deve ser o que se pretende.
Mais precário deve ser ainda um outro plano para ajudar a projetar o candidato – o de que ele seria uma melhor opção para o comando da cidade do que o atual prefeito Bruno Reis (União Brasil), que conclui seu primeiro mandato e é favorito à sucessão, como apontam as mesmas pesquisas, tanto pelo nível de aprovação quanto pelas intenções de voto que exibe. De cara, a estratégia já enfrenta o forte predomínio de uma tendência no Brasil, também apontada por pesquisas e pela experiência, de o eleitor dar a oportunidade de reeleição aos gestores dos quais fazem boa avaliação, o que se transforma em aliado claro de qualquer titular.
Em condições normais, para destronar um incumbente, o candidato mais forte da oposição precisa mostrar que ele não apenas é o melhor, como pode fazer melhor, com sinalização clara de que reúne todas as condições para tanto. Como se constitui numa aposta racional, não se trata, no entanto, de uma proposta na qual o eleitor possa ingenuamente confiar. Ainda mais numa cultura em que, em reação à insegurança e à instabilidade costumeiras, predomina a tese de que em time que está ganhando é muito mais prudente não mexer. É certo que, para tentar fortalecer seu candidato, o governo ainda pode contar com outras estratégias.
Já fez muito por ele, por exemplo, ao eliminar seus concorrentes no próprio grupo. O problema é que muito comumente a tática de eliminar os adversários internos deixa sempre mágoas e, desde o princípio, elas começaram a dar sinais de que têm vigor para atrapalhar os planos de unificação sincera do grupo em torno do candidato. A escolha da deputada federal Lídice da Mata (PSB) para coordenar sua campanha, uma decisão cuja demora em sair teve um custo para Geraldo Jr., dada sua condição de oposicionista, aponta para a compreensão de que há muitas arestas a serem aparadas entre os aliados de esquerda, primeira missão a que ela deve se dedicar.
Mas se conseguiu eliminar a concorrência a Geraldo Jr. entre os aliados, o governo esqueceu-se de que permanece atuante o PSOL, que atua no mesmo campo político esquerdista e escolheu para apresentar na sucessão Kleber Rosa, um candidato respeitado e preparado com condições plenas de representar o segmento nestas eleições, no qual cresceu e se criou. Para começo de conversa, ele nunca esteve num partido que apoiou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e, como todos os petistas, diferentemente de Geraldo Jr., nunca flertou com o presidente Jair Bolsonaro (PL), posições que é melhor que o emedebista nem tente explicar.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.
Raul Monteiro*