Publicado em: 17 de fevereiro de 2023 Atualizado:: fevereiro 17, 2023
A surpreendente declaração do senador Jaques Wagner (PT) contra a indicação de Aline Peixoto ao Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) tornou públicas antigas divergências entre ele e o ex-governador Rui Costa (PT), hoje ministro da Casa Civil do governo Lula, sobre as quais só havia até agora elementos de bastidores, abalou as perspectivas de vitória da candidatura da ex-primeira-dama e aprofundou a divisão na alma do governador Jerônimo Rodrigues (PT) quanto a que partido tomar na disputa entre os dois caciques petistas aos quais deve integralmente sua eleição ao Palácio de Ondina.
Se foi Rui quem vestiu a camisa da candidatura do seu secretário de Educação em 2022, movendo mundos e fundos para conseguir elegê-lo, foi Wagner que, apesar de preferências manifestas à época por nomes como o de Luiz Caetano e Moema Gramacho para assumir a liderança da disputa, por outro lado, impôs que o PT lançasse candidato à sucessão estadual. À época, descrente das chances eleitorais de um partido que completava 16 anos no poder, o então governador se articulava para concorrer ao Senado e passar o governo para seu ex-vice, o hoje deputado federal João Leão (PP).
Assim como foi em sinal de gratidão aos dois, mas também de invejável disciplina partidária, que, desde a montagem do governo, Jerônimo buscou atuar como um dublê de equilibrista tentando evitar um aprofundamento das escaramuças entre Wagner e Rui, usando a gestão para atender as demandas e interesses de ambos. Seria sua única maneira de impedir que os desentendimentos entre eles se avolumassem, impondo-lhe uma tomada de posição em favor de um ou de outro que pudesse levar a uma incontrolável desagregação do grupo capaz de se tornar devastadora para sua iniciante administração.
Como resultado, o governador abriu deliberadamente mão de suas cotas em favor dos dois, compondo um arranjo administrativo, que, para muitos, no entanto, parece ter favorecido mais o ministro do que o senador. No que dependeu exclusivamente dele, Jerônimo teve até aqui inegável inteligência para postergar um conflito de grandes proporções. Mas o dilema de sua vida, com pouco mais de um mês de governo, se apresentou, como se vê, num galope: envolve exatamente a campanha de Aline ao TCM, que, em um único sopro, chegou para consumir toda e qualquer neutralidade com que ele desejava continuar se comportando.
Como o centro para dirimir a querela é a Assembleia Legislativa e não a Câmara dos Deputados, onde, como ministro da Casa Civil, Rui poderia exercer todo o poder de sua influência institucional, Jerônimo terá que se posicionar. Diante da manifestação de descontentamento de Wagner, caberia recuar agora, recolher as armas com que dotou os deputados estaduais para tornar a ex-primeira-dama favorita e se afastar da disputa? Se fizer isso, a derrota será inevitável, embora, com toda a certeza, não precise dividi-la com Rui, que arcará, ao final e ao cabo, com todo o peso de uma escolha que, como se sabe, não tem a simpatia da opinião pública.
Mas teria o governador peito para enfrentar o ministro assumindo uma atitude que pode resultar numa inimizade para toda a vida, em que pese, pelo prisma do wagnerismo, ser também auto-libertadora? Os indícios são exatamente em sentido contrário. Mas e quais serão as consequências? Em que situação ficará, com quatro longos anos pela frente, perante o senador e o PT que o endeusa ao se obrigar a fazer uma opção por Rui? São muitos, provavelmente quase todos, os políticos que dizem que não gostariam de estar hoje na pele do excelentíssimo governador do Estado. Porque, afinal, com Wagner, papá, a Bahia toda já sabe, do MDB ao União Brasil, que não se brinca!
Política Livre