Publicado em: 30 de outubro de 2023 Atualizado:: outubro 30, 2023
PT e PCdoB fizeram, no mesmo final de semana, eventos municipais para demarcar território na disputa narrativa para as eleições de 2024 em Salvador. Ambos integram uma federação e, necessariamente, não podem se enfrentar nas urnas. Porém enviaram recados bem explícitos de que os partidos já possuem um objetivo claro: não perder ou até mesmo ampliar as respectivas bancadas na Câmara de Vereadores. Admitem o favoritismo do prefeito de Bruno Reis (União) e, apesar de não jogarem a toalha, preferem olhar para os próprios desafios ao invés de entrarem numa disputa em que podem apenas perder.
É possível perder ganhando? Sim. E é essa a premissa que tem forçado os petistas e comunistas a resistirem a uma candidatura de Geraldo Jr. (MDB) a prefeito de Salvador. Caso o vice-governador saia candidato, apenas ele ganha e as bancadas da esquerda tendem a minguar ainda mais, dado que a máquina da prefeitura, onde acontecem as minúncias da cidade, está completamente favorável a Bruno e o governo, por mais que tenha força, não conseguirá fazer frente a isso apenas para beneficiar um emedebista. Nesse duelo, o umbigo é mais relevante do que viver a utopia de que existem forças suficientes para ganhar de um prefeito sentado na cadeira.
A candidatura de Geraldo Jr. vive entre montanhas e vales. Foi de inexistente a muito provável num piscar de olhos e voltou a ser um sonho na mesma velocidade. Os movimentos que o vice fez para ser candidato único provocaram um efeito adverso entre os aliados, conforme escrito aqui ao longo das últimas semanas. O resultado disso é uma militância petista engajada contra, tanto quanto os comunistas, que preferem um perfil mais austero de crítica. No final das contas, não descartaria uma fratura com mais de uma candidatura apresentada pelo governador Jerônimo Rodrigues na capital para evitar que o rompimento dos aliados seja definitivo.
O PT faz mais barulho que o PCdoB porque sabe a força do 13 e da associação com Luiz Inácio Lula da Silva. Já os comunistas “comem pelas beiradas” numa estratégia similar a de 2020, quando houve uma disputa entre as legendas. A diferença é que agora tal caminho não será possível, então a candidatura de Olívia Santana é bem menos estridente do que a de Robinson Almeida. O saldo para o PCdoB no último pleito soteropolitano veio dois anos depois com Olívia campeã de votos para a Assembleia Legislativa. É esse tipo de conta que os caciques seguem fazendo na construção das eleições de 2024.
É cedo para dizer que Geraldo Jr. e o sonho do MDB em voltar à prefeitura de Salvador – repetindo o extraordinário feito de João Henrique em 2008 – tenha subido no telhado. Os atos de PT e PCdoB, no final de semana, até sugeriram isso. A própria fala pública de Jaques Wagner sobre o tema – considerado o maior guru para quem tem poder de decisão no núcleo petista – evidencia que o jogo, que chegou a parecer estar perto de ter a escalação definida, ainda vai demandar muita discussão. Como a política obedece a mesma lógica das nuvens, até um sopro fraco pode alterar os formatos. A tal esperança no nome da federação é talvez o bote salva-vidas para manter Geraldinho nesse embate.
Por: Bahianoticias