Publicado em: 23 de novembro de 2024 Atualizado:: novembro 23, 2024
A maioria dos brasileiros afirma que, quando a polícia aborda uma pessoa negra, geralmente é mais violenta do que ao abordar um branco. Ao todo, 79% da população compartilham da opinião, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (2). A taxa dos que discordam é de 17%.
Segundo o levantamento, 28% dos brasileiros já foram parados na rua para uma revista policial. O número é maior entre pretos, 34%, ante 29% dos pardos e 24% dos brancos. A maior diferença neste tipo de situação se dá entre homens (50%) e mulheres (8%).
A pesquisa foi realizada de 5 a 7 de novembro de 2024 e tem margem de erro geral da amostra de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Com relação à cor da pele, a margem de erro é de cinco pontos para pretos, de quatro para brancos e de três para pardos. Foram entrevistadas 2.004 pessoas com 16 anos ou mais, em 113 municípios de todas as regiões do país.
De acordo com Evandro Cruz Silva, pesquisador de violências de Estado e relações raciais, os dados refletem a realidade do policiamento no país. Para ele, o exercício policial não tem funcionado como deveria, e as abordagens são feitas como base um perfilamento racial, em que pessoas negras são os principais alvos.
“Esse padrão de policiamento ostensivo tem efeito sobre a redução e o combate ao crime? Os números mostram que não, mas isso se sustenta como uma prática histórica das forças policiais. Quando uma instituição que não está formalmente orientada a agir racialmente age, sua ação leva à produção de desigualdade racial. A gente chama isso de racismo institucional”, afirma o sociólogo Paulo César Ramos, autor do livro “Gramática Negra Contra a Violência de Estado” (2024, Elefante).
De acordo com ele, a orientação racial somada ao fator de gênero e à idade torna o jovem negro a maior vítima de violência policial. O pesquisador considera que homens são mais abordados porque há uma convenção social que exclui a mulher do lugar de suspeita.
A respeito dos pardos, mais abordados pela polícia que os brancos e menos que os pretos, a advogada Carolina Pereira afirma que dois fatores podem ser apontados: a proporcionalidade em relação à população (10% da população é preta; 43% é branca e 45%, parda, segundo o IBGE) e a passabilidade -capacidade de transitar entre diferentes grupos raciais.
“A forma como pessoas pardas estão vestidas, sua classe social e os territórios que ocupam podem fazer com que sejam abordadas, se aproximando um pouco mais dos pretos, ou não”, explica.
Também de acordo com a pesquisa, é majoritária a parcela de mães e pais que têm medo de que seus filhos sejam vítimas de algum tipo de abordagem violenta pela polícia -68% dos entrevistados com filhos disseram temer esse tipo de situação, sendo que 43% têm muito medo, e 25%, um pouco de medo.
No universo de pais e mães pretos, mais da metade temem esse tipo de situação: 75% (55% têm muito medo da violência policial contra seus filhos e 20% têm um pouco de medo). O temor fica em 70% entre pardos (44% e 26%, respectivamente) e em 61% no segmento de brancos (36% e 25%, respectivamente). No recorte de gênero, 50% das mães têm muito medo, e 24%, um pouco de medo, frente a 34% e 25% dos pais, respectivamente.
Fonte: Bahianoticias
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