• SEJA BEM-VINDO

Alunos do Colégio Militar teriam sido obrigados a ficar na chuva por 45 minutos

Publicado em: 13 de abril de 2017 Atualizado:: abril 13, 2017

PMS 1

Alunos do Colégio Militar de Salvador (CMS) teriam sido obrigados a ficar em forma na chuva durante 45 minutos na última quinta-feira (6). É o que uma representação apresentada no Ministério Público Militar (MPM) na sexta-feira (7) afirma. Os estudantes do CMS, que têm entre 10 e 18 anos, teriam sido obrigados a permanecer em forma durante uma “formatura” de treinamento mesmo com uma “chuva torrencial”, como foi descrito na representação. A formatura teria ocorrido entre 6h45 às 9h e, após o treinamento, as crianças teriam ficado durante toda a aula, que perdura até 12h00 nas quintas, com seus uniformes molhados. Alguns celulares, boinas e sapatos teriam sido danificados por conta da chuva. Uma aluna do segundo ano, que não quis se identificar, contou ao Bahia Notícias que ela e um grupo de alunos ainda tentaram sair de forma, mas que o comandante teria dado voz de comando para que elas retornassem. “Estávamos em forma no ensaio da formatura e começou a chover. A nuvem estava indo de um lado para o outro, chovendo devagar, até que começou a chover muito mais forte. A gente ainda comentou, em forma, que ele [o comandante] iria liberar, porque geralmente é assim, mas não aconteceu. Então eu e um pessoal saímos de forma sem ninguém mandar, porque estava chovendo muito forte, mas o comandante falou para a gente voltar porque ninguém tinha dado ordem para sair de forma, e a gente voltou. Eles mantiveram a gente em forma por mais ou menos 30 minutos”, contou a estudante. Dentro do Colégio Militar existe uma hierarquia, em que militares atuam diretamente com as crianças, que são monitores e subordinados aos comandantes de companhia. A autoridade máxima do CMS é o comandante de Engenharia Carlos Hassler, que assumiu o comando da Escola de Formação Complementar do Exército e Colégio Militar de Salvador (EsFCEx/CMS) no final de 2015. A ordem para manter os alunos em forma teria partido dele, que estava presente presidindo a formatura. Contatado pelo Bahia Notícias, Hassler afirmou que o fato ocorreu porque “o comando achou que [a chuva] ia passar logo, mas não passou”. “Não foi uma coisa rotineira, não foi uma coisa intencional. A situação aconteceu e depois que todos já estavam molhados, resolvemos continuar”, afirmou. O comandante ainda afirmou que, geralmente, em dias de chuva, as crianças são retiradas do pátio, que é descoberto, e levadas para lugares com cobertura. “Normalmente o procedimento é sempre de retirar as crianças do pátio. Isso depende das circunstâncias, se estamos no meio de uma atividade, a tendência é tirar as crianças. Se estamos lá no pátio [que é descoberto], nós tiramos e as levamos para o saguão do CMS [que possui cobertura]”, esclareceu. Uma representação contra a determinação do comandante foi levada ao MPM pelo Tenente Messias Dias, que preferiu não se pronunciar. Nela, o tenente, que tem dois filhos no colégio, afirma que as ações foram “em desacordo com os ditames legais, no tocante ao trato com as crianças, especialmente por total desacordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)” e classificou o ocorrido como um “absurdo”. O militar ainda pede que os fatos sejam investigados e que as “providências cabíveis” devam ser tomadas. Ele ressalta que o comandante é a autoridade máxima do CMS. “Pior, o absurdo partiu justamente da maior autoridade da EsFCEx e CMS, não existindo qualquer outro, naquela Organização Militar, com capacidade hierárquica de lhe orientar e tomar medidas disciplinares”, afirmou.

A representação agora está no Ministério Público Militar (MPM), que é o ramo responsável pela ação penal militar, no âmbito da Justiça Militar da União. O promotor de Justiça Adriano Alves é o responsável pela análise do fato. “Eu recebi a representação na segunda e estou fazendo diligências, estamos pedindo informações. Nós estamos analisando a conduta de uma pessoa e não analisando o Sistema Colégio Militar, que é uma instituição centenária e acredito que um dos melhores sistemas de ensino atuais”, afirmou. O procurador afirmou que deve realizar a oitiva de pessoas para se convencer de como as coisas aconteceram. “Para isso, é necessário bastante prova. Eu não instaurei um processo de investigação, primeiro tenho que saber como as coisas aconteceram”, explicou, afirmando que sempre há a possibilidade de sanções quando uma representação é protocolada, mas que também há a possibilidade de um arquivamento do caso. O Colégio Militar de Salvador emitiu uma nota oficial explicando a situação. “Uma chuva torrencial comprometeu o andamento das atividades, e como não cessou a chuva, apesar do treinamento ser finalizado antes do tempo programado, a tropa já havia se molhado”, afirma a nota que ressalta que medidas para atenuar a situação foram realizadas. Alunos que levaram o uniforme de Educação Física da instituição puderam se trocar, alguns pais teriam levado uniformes secos para serem substituídos e chocolates quentes teriam sido servidos pelo colégio. “O Sistema Colégio Militar do Brasil é pautado em sólidos valores morais, éticos e sociais e não é prática corrente a condução de treinamentos sob condições climáticas extremas, seja chuva ou excesso de sol”, diz a nota. A Associação de Pais e Mestres (APM) do Colégio Militar de Salvador foi procurada pelo Bahia Notícias e afirmou que deu suporte a todos os envolvidos, mas que não iria emitir opiniões sobre o fato. O Tenente Messias Dias também foi contatado pelo Bahia Notícias, mas não quis se pronunciar sobre o caso. Sobre os danos materiais que os alunos teriam sofrido, a aluna do segundo ano afirmou que alguns alunos tiveram suas boinas, parte obrigatória do uniforme, sapatos e até mesmo os celulares danificados. “O meu mesmo ficou com o display afetado durante dias, mas agora voltou ao normal”, contou. O coronel Carlos Hasler afirmou que não recebeu notificação oficial sobre danos materiais, mas que, se receber, os casos serão analisados pelo comando do CMS.  Por Bahianoticias 


TEIXEIRA NO AR


Siga as redes sociais