Publicado em: 22 de abril de 2019 Atualizado:: abril 22, 2019
Uma matéria publicada pelo Correio denuncia que 271 cidades da Bahia, abastecidas por água da Empresa Baiana de Saneamento e Água (EMBASA) estão consumindo água contaminada com agrotóxico.
A denúncia foi baseada em estudos realizados entre 2014 e 2017 e fazem parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da Saúde. O estudo detectou em 1.396 municípios no país todos os 27 pesticidas.
A investigação conjunta foi realizada pela ONG Repórter Brasil, da Agência Pública e da organização suíça Public Eye, os dados dizem respeito ao período entre 2014 e 2017 e das 271 cidades detectadas com contaminação de agrotóxicos e pesticidas, todas as cidades do extremo sul estão na lista.
As cidades de Alcobaça, Caravelas, Prado, Mucuri, Nova Viçosa, Teixeira de Freitas, Medeiros Neto, Itanhém, Lajedão, Ibirapuã, Jucuruçu, Itabela, Eunápolis, Porto Seguro, Guaratinga e Vereda, fazem parte das cidades que consomem água contaminada.
Saúde em alerta
As intoxicações por agrotóxico, em casos graves, podem até gerar coma, parada cardíaca, hemorragia ou perda da visão. Na Bahia, o problema é tratado como uma questão de saúde pública, já que está entre os oito estados do Brasil em consumo do produto.
Os defensivos agrícolas possuem diversos níveis de intoxicação, que podem variar de acordo com a quantidade do produto e tempo de exposição a ele.
O Ministério da Saúde alerta que os venenos podem entrar no corpo por meio de contato com a pele, mucosas, respiração ou ingestão. Os sintomas mais comuns logo após a exposição são mal-estar, dor de cabeça e cansaço. Nos casos mais graves, pode se identificar lesões de pele, tonturas, dificuldade respiratória, podendo ocorrer coma e morte.
Os agroquímicos também podem desenvolver problemas crônicos, que aparecem após algum tempo, como distúrbios como irritabilidade, ansiedade, alterações do sono e da atenção, depressão; dor de cabeça, cansaço, alergias de pele e respiratórias, problemas neurológicos e até alguns tipos de câncer.
O bioquímico Luciano Costa destaca que a presença dos agrotóxicos na água acima do nível permitido pelo Ministério da Saúde pode provocar diversas doenças.
“Funciona como o efeito radioativo, ele vai acumulando no organismo. Ou seja, você pode ter problemas mais graves no futuro quando consome esse tipo de material”, disse.
Ele destacou que quanto maior a quantidade ingerida e o tempo de exposição, piores são os sintomas e as consequências para a saúde.
“Não é que a pessoa de imediato vai ter câncer, mas como algumas substâncias são cancerígenas, quando há uma grande exposição, os riscos aumentam”, explicou.
A Pública – Agência de Jornalismo Investigativo – e ONG Repórter Brasil, que pesquisaram os dados de contaminação da água, são organizações especializadas em jornalismo investigativo fundadas em 2011 e 2001, respectivamente. A Pública foi o terceiro veículo de comunicação brasileiro mais premiado em 2016 e já conquistou os principais prêmios de Jornalismo do Brasil a exemplo do Tim Lopes, Petrobras e Vladmir Herzog.
Agronegócio questiona dados de contaminação
A divulgação, nessa semana, do resultado do estudo de contaminação de água por agrotóxicos pela Agência Pública, Repórter Brasil e organização Public Eye gerou questionamentos. Além das próprias empresas de tratamento de água desmentirem as informações ou falarem que elas são tendenciosas, associações do setor agrícola também foram contrárias aos dados apresentados.
A Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), por exemplo, afirmou que os dados foram publicados “de forma alarmista” com pesquisas “absolutamente desconhecidas por autoridades nacionais e internacionais”.
“A matéria trata de forma cientificamente distorcida a questão do resíduo de agroquímicos na água dos municípios brasileiros, já que apenas 0,3% das análises realizadas estão acima dos valores máximos estabelecidos pelas autoridades brasileiras. O texto importa parâmetros europeus e faz uma análise fora do contexto da realidade brasileira, um país tropical e com mais de 65% do seu território coberto por vegetação nativa”, diz a entidade em nota enviada à imprensa.
A entidade destacou que os agrotóxicos passam por aprovação da Anvisa, MAPA E Ibama e estão “entre os produtos mais regulamentados em todo o mundo” e que o processo de desenvolvimento do produto é longo, podendo chegar a 10 anos, justamente por conta da quantidade de pesquisa necessária para produzi-los.
“Cada país estabelece diferentes limites, pois eles também dependem do uso local; por isso comparar regiões globais não é a maneira mais adequada de verificar a qualidade da água. O monitoramento da qualidade da água deve levar em conta o uso e a exposição, ou seja, avaliando-se cientificamente o risco”, opinou a entidade.
Sobre o aumento de toxicidade entre mistura de agrotóxicos, a entidade afirmou que “deve-se ponderar que não se pode esperar que os defensivos com diferentes modos de ações para os organismos alvos apresentem toxicidade acumulativa”.
O Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), entidade que representa os fabricantes de agrotóxicos, destacou a avaliação já realizada previamente pela Anvisa, Ibama e Ministério da Agricultura.
“Garante que eles são seguros ao trabalhador, população rural e ao meio ambiente sempre que utilizados de acordo com as recomendações técnicas aprovadas e indicadas em suas embalagens”.
“O setor de defensivos agrícolas realiza iniciativas para garantir a aplicação correta de seus produtos, uma vez que alguns problemas estruturais da agricultura como a falta do hábito da leitura de rótulo e bula e analfabetismo no campo trazem um desafio adicional de cumprimento às recomendações de uso”, acrescentou o sindicato.
A Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba) informou que só vai se pronunciar sobre o caso após apurar os dados e confrontá-los com outros levantamentos.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia e a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia, órgão do governo estadual, foram procuradas, mas em função do feriadão não foram localizados representantes para se posicionar.
Veja a lista das cidades da Bahia que estão com a água contaminada, segundo o estudo: